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MUDANÇA & DESISTÊNCIA

Para um público refinado e endinheirado, uma loja linda no bairro mais charmoso da cidade. Produtos de bom gosto para presente, decoração, cama & mesa, e móveis estilo inglês. Atendimento exclusivo, diferenciado, impecável. Sucesso! Cada vez mais difícil estacionar por perto, os clientes começaram a sumir. Revisto o modelo, eliminaram seções e aumentaram as opções em móveis. As novidades, de margem alta, mascararam a perda contínua de clientes. Então veio o primeiro dia sem vendas. E o segundo... A cidade, o Cliente e a economia tinham mudado. Com uma marca de forte referência no mercado, mas sem capital para sua revitalização, antes que sobrassem apenas dívidas, entregaram as chaves.
Desde quando absorvi a idéia de que se continuo a fazer as coisas do mesmo jeito vou continuar a obter o mesmo resultado, nunca mais encarei meus infortúnios da mesma forma. Mas, com certeza, mudar não é nada fácil para o ser humano. Mudar é a renúncia mais dolorosa porque implica em trocar algo em que investimos muito, por muito tempo, por alguma outra coisa que por mais informação que tenhamos buscado, nos é desconhecida, incerta e amedrontadora. Além, evidentemente, de ser muito difícil admitir que estávamos errados o tempo todo!
Entretanto, as circunstâncias mudam e mudam nossa realidade. Em pequenos negócios, pequenas mudanças são difíceis de serem percebidas, e uma seqüência ou confluência de pequenas mudanças pode provocar transtornos irreparáveis.
Perceber mudanças não é um dom de videntes, mas, com certeza, exige que Desavisado fique ligado e Sabichão atento ao futuro, ou ambos serão surpreendidos. A situação atual de seu negócio é conseqüente das circunstâncias atuais. Ao perceber mudanças externas, mude. Não tente resistir porque resistência só faz aumentar a dor. Mude. Uma vez que um comportamento muda, qualquer tendência muda de direção, e o que foi nunca mais será. “Nada será como antes” não é apenas o verso de uma canção. É um mantra em negócios.
É custoso demais? Então desista. Não resista.  Se Você vier a desistir porque enfrentou os fatos, então terá feito a coisa certa. O futuro imediato oferecerá provas do acerto de sua decisão. Proteja o conquistado, renove suas energias e aplique tudo em algo com melhores chances.
A determinação só pode existir em relação ao fim (o sucesso do empreendimento), jamais em relação aos meios. Quando você resiste a mudar, está apenas sendo teimoso, prorrogando seu sofrimento e aumentando a dor.
Conselho:

Fique ligado. Olho no horizonte. Perceba os sinais e ajuste o rumo. Ou mude tudo. 



PRUDENTE & HUMILDE
Era uma vez um fiscal e seu supervisor. Foram dar uma incerta no frigorífico de carnes, localizado na entrada de um complexo da maré alta ou baixa, não sei. Lá chegando, dirigiu-se ao dono e pediu para “ver os livros”. Viu que pouco havia sido lançado e anunciou sua intenção de visitar as instalações para confrontar com os registros. O sujeito cofiou a barba por alguns instantes, olhou o fiscal de soslaio, e disse “tá certo, vamo lá”. Ao se aproximarem da porta de 30 cm de espessura, na entrada da câmara de onde saía a fumaça branca do frio extremo, vaticinou: “O senhor pode entrar. Eu fico aqui para o caso da porta fechar sem querer. Ela está com defeito, se fechar, só abre por fora”.O fiscal olhou para o supervisor. O supervisor para o fiscal. E lembraram um compromisso para o qual já estavam atrasados. Assim me foi contado, assim reproduzi.
Você não precisa ser um Prudente de Almeida nem um Humilde da Silva como pré-requisito para o sucesso em seu próprio negócio. Se propusesse isso, estaria praticando o que estou criticando e não sendo honesto com Você. Prudente é um Almeida tal qual Desavisado. Humilde é um Silva tal qual Sabichão. Somos todos parentes. Temos genes em comum. Talvez alguns estejam adormecidos. Só isso.
As circunstâncias não são favoráveis ou desfavoráveis por definição, mas apenas pelos acasos que somos ou circunstâncias em que estamos. Se os acasos não são previsíveis e as circunstâncias não podem ser moldadas à nossa vontade, podemos nos ajeitar a eles em nosso proveito. Do limão, limonada, não é assim?
Faz alguns anos, comecei a me incomodar com essa coisa de criticar e classificar as atitudes dos outros em boas ou más conforme a (in)conveniência delas para mim. Comecei a perceber que as pessoas não são boas nem ruins, não têm qualidades ou defeitos. Têm características. Agem, ou melhor, reagem, segundo suas maneiras próprias de interpretar o mundo. Uma dada característica será útil em algumas situações, em outras, inútil ou inapropriada. Às vezes serve para nos aproximar do outro, outras para nos afastar. Algumas nos fazem simpáticos a uns, antipáticos a outros. Desejáveis ou indesejáveis. Rentáveis ou custosos, e assim por diante. Dependendo da circunstância, portanto, qualquer característica pode ser qualidade ou defeito.
Com a consolidação e prática dessa percepção, passei a botar minhas inseguranças mais de lado e a deixar de me ver como foco das (más) intenções dos outros. Ao invés de rotular as pessoas simplista e levianamente para justificar meus medos, procuro agora avaliá-las segundo suas características e circunstâncias. Isso tem sido extremamente proveitoso por duas razões:
1)      Reduzi minha tendência para tentar modificar o comportamento do outro (o que todo mundo tenta sem sucesso). Ou seja, sou menos pela-saco.
2)      Passei a investir no aprimoramento das características positivas que se manifestam nas situações com as quais eu convivo com o outro. Ou seja, mais valor ao que merece ser valorizado.
Tenho obtido alguns ganhos práticos:
1)      Melhorei meu relacionamento com todos os meus funcionários, dos quais sempre cobrei muito.
2)      Consegui realizar algo impensável (pelas diferenças de personalidade): me tornar sócio efetivo de meu filho.
3)      Ganhei funcionários mais competentes, e me arrisco a dizer, mais satisfeitos, e mais compromissados com a empresa, porque procuro adequar suas características às suas funções, o que, conseqüentemente, os torna mais eficazes. Alguém gosta de ser incompetente?
4)      Sinto-me cada dia menos babaca, o que já me dá uma agradável sensação de felicidade.
Antes de começar qualquer negócio, ou depois, mesmo muito depois, não importa, identifique suas características. Sabichão faz o tipo pavio curto, mantém uma cara de poucos amigos e se dá mal porque o tacham de antipático? Então deve ser muito bom em administração, porque “mantém as coisas nos eixos” e dentro do orçamento. Desavisado faz o tipo bonachão, nunca diz “não” pra ninguém, se dá mal porque abusam (no bom sentido) de Você o tempo todo? Então pode se dar muito bem cuidando da relação com clientes.
Conselho:

Por mais desavisado, seja prudente. Por mais sabichão, seja humilde. E sucesso!



LETRA & ESPÍRITO
Há que se captar o espírito da letra.
Em Direito, aprende-se que a lei incorpora dois conceitos: letra e espírito. O conceito de letra da lei significa a sua interpretação literal, fria, restrita ao texto, ao leit-motif[1]. O espírito da lei significa a intenção maior que vai além do texto, da letra. Perceber o espírito da lei significa entender os princípios éticos e morais que lhe deram inspiração e que, portanto, a ampliam, permitindo sua aplicação a outras situações, a maioria delas nem mesmo imaginadas pelos legisladores. Como exemplo, nos conflitos de interesse relativos à internete e na falta de legislação própria, a justiça se vale do espírito de outras leis e, com isso, forma jurisprudência[2].
Nada aqui, nenhum capítulo, parágrafo ou frase, deve ser interpretado pela sua letra, como se o dito rígido fosse. Tudo aqui deve ser considerado pelo espírito, pela intenção. Tudo pode ser questionado, mas tudo deve ser considerado.
É possível que tenha me esquecido de tratar algum aspecto que Desavisado considere relevante. Se esse for seu caso, me escreva para que possa avaliar a inclusão numa próxima edição. É possível ter valorizado algum aspecto que, na avaliação de Sabichão, não tem qualquer relevância. Faz parte. Mas, avaliando retrospectivamente meus poucos sucessos e muitos insucessos, sinto-me confortável em dizer que as mais importantes questões a considerar na criação e sobrevivência de um próprio negócio estão abordadas aqui, pelo menos de um modo básico para provocar as reflexões do leitor.
Se Sabichão considerar o número de vezes que encontrou expressões similares a na maioria, principalmente e outras equivalentes, poderá concluir facilmente que, mesmo nas regras, há espaço para muitas exceções. As exceções do seu negócio específico; das suas circunstâncias; dos seus acasos; do seu jeitão.
Se Desavisado leu tudo até aqui, então está suficientemente informado para tomar melhores decisões; poderá elaborar um melhor plano de negócios; criar mais eficientes estratégias de marquetim; aplicar melhor seu dinheiro (e/ou de seus sócios); conquistar clientes de modo mais consistente e mais rapidamente; etc. E o mais importante:
  1. Agora Sabichão poderá ignorar, não mais por desconhecimento, mas por decisão consciente, mais conhecedor que está das conseqüências e riscos de suas escolhas.
  2. Desavisado poderá melhor decidir porque tem parâmetros para fazer comparações.
Minha expectativa sincera é que Você possa construir seu próprio patrimônio de experiências com menos perdas e mais ganhos. E fazer de seu negócio uma empreitada de sucesso.
Acredito que cada pessoa que tomou a iniciativa de comprar este livro, o fez com a esperança de melhorar suas chances ou as de uma pessoa querida. Quanto mais tiver contribuído para isso, mais grato estarei às circunstâncias e acasos que me fizeram chegar a este ponto final.
Conselho:
Capice? Sacou?





[1] Leit-motif, expressão do latim. O que serviu de motivo principal.
[2] Jurisprudência é a decisão judicial sobre um caso não previsto em lei que, por decisão primeira, passa a ser referência no julgamento de casos futuros similares. 

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